"Se as coisas não saíram como eu quis, posso me dar por feliz, porque tenho o dia de hoje para recomeçar!" (Charles Chaplin)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Memórias da escravidão no Ceará




O Museu Senzala Negro Liberto está localizado no município de Redenção, a 50 km de Fortaleza, capital do Ceará. Este espaço guarda memórias da história brasileira desde o século XVIII. Criado em 2003, o museu é composto por canavial, senzala, casa grande, moageira e uma unidade de produção da aguardente Douradinha, envelhecida em tonéis de bálsamo por 30 anos. O sítio onde o museu está localizado foi construído pela família Muniz Rodrigues, em 1873.

O engenho é outro atrativo do museu, pois a máquina de moer a cana foi fabricada na Escócia, em 1927. Atualmente, o museu funciona de agosto a setembro, produzindo entre 8 a 15 litros de caldo de cana por dia para a produção da cachaça. Funcionando a vapor, esse equipamento utiliza o bagaço da cana de açúcar como combustível.

Como marco histórico, a Vila de Acarape, hoje Redenção, foi o primeiro município brasileiro a dar alforria aos negros cativos. Esta ação foi executada antes da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
Sendo a primeira província do Brasil a abolição da escravatura, em 1883, o sítio se tornou referência. A Casa Grande, antigo Engenho Livramento, é repleta de histórias dessa época. Sendo passado de geração a geração, hoje, os responsáveis pela manutenção da área são Hipólito Rodrigues de Paula Filho, conhecido como “Potin” e sua filha Eneida Muniz Rodrigues, membros da família de Juvenal de Carvalho.

A fazenda, que possuía 100 hectares de terra, cresceu bastante depois de ser comprada por Juvenal.  O piso da Casa Grande, em mosaico português, é original do século XVIII. Vale lembrar que a fabrica de cachaça, produzida pelos escravos, está no mercado há 138 anos, sendo que, a cultura própria daquela época, continua sendo preservada, conforme se pode observar pelo artefato preso na varanda (uma cabeça de boi).
A senzala é outro grande ponto do museu, localizada no subsolo, o espaço é muito pequeno e cheio de morcegos, marcas visíveis da crueldade imposta pelos senhores aos negros.  

Histórias
Na varanda da Casa Grande fica um sino com a seguinte frase “Sino para anunciar a labuta” (labuta significa “trabalho penoso”), de acordo com a lenda,  se alguém tocar no sino, caso seja solteira, após o toque nunca mais se casará, ou se for casada, em pouco tempo se separa ou fica viúva.
Outro grande fato foi à morte de uma escrava na fazenda. Conta-se que a escrava cuidava do único filho do senhor Simão e, por descuido, deixou a criança cair, causando acidentalmente a morte do menino. O senhor revoltado, espanco-a, torturando-a durante dias e em seguida, foi enterrada viva no local da senzala, próximo aos troncos.

Na casa também está preservado o documento que traz o nome antigo do município que se chamava Calaboca. Esse nome veio porque na antiga Acarape existia um mosteiro de frades, com a presença de indígenas, quando os frades se reuniam para as orações, os índios começavam a fazer barulho e os frades ordenavam que calassem a boca.

Castigos
  • Tronco – Os escravos que eram encontrados dormindo ou sem trabalhar no horário do serviço, eram levados até o tronco. Lá, eram expostos para que as pessoas que passassem no local pudessem açoitá-lo.
  • Vira mundo – Os escravos ficavam amarrados das 18 horas até as 5 horas do dia seguinte, com os pés e as mãos presas a um instrumento de ferro.
  • Sala dos Troncos – Os escravos eram surrados com chicotes feitos com bacalhau a couro cru. Na época, cada ponta do chicote continha lâminas, pregos, ferro etc. Após o castigo, eles eram banhados com água misturada com sal, vinagre, pimenta e urina de animal.
  • Solitária – Caso houvesse tentativa de fuga, os escravos eram mantidos em um pequeno espaço fechado permanecendo, neste local sombrio, por sete dias.

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