O Museu Senzala Negro Liberto
está localizado no município de Redenção, a 50 km de Fortaleza, capital do Ceará.
Este espaço guarda memórias da história brasileira desde o século XVIII. Criado
em 2003, o museu é composto por canavial, senzala, casa grande, moageira e uma
unidade de produção da aguardente Douradinha, envelhecida em tonéis de bálsamo
por 30 anos. O sítio onde o museu está localizado foi construído pela família
Muniz Rodrigues, em 1873.
O engenho é outro atrativo do museu, pois a máquina de moer a cana foi
fabricada na Escócia, em 1927. Atualmente, o
museu funciona de agosto a setembro, produzindo entre 8 a 15 litros de caldo de
cana por dia para a produção da cachaça. Funcionando a vapor, esse equipamento
utiliza o bagaço da cana de açúcar como combustível.
Como marco histórico, a Vila de Acarape, hoje Redenção, foi o primeiro
município brasileiro a dar alforria aos negros cativos. Esta ação foi executada
antes da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
Sendo a primeira província do Brasil a abolição da escravatura, em 1883,
o sítio se tornou referência. A Casa Grande, antigo Engenho Livramento, é repleta
de histórias dessa época. Sendo passado de geração a geração, hoje, os
responsáveis pela manutenção da área são Hipólito Rodrigues de Paula Filho,
conhecido como “Potin” e sua filha Eneida Muniz Rodrigues, membros da família de
Juvenal de Carvalho.
A fazenda, que possuía 100 hectares de terra, cresceu bastante depois
de ser comprada por Juvenal. O piso da Casa
Grande, em mosaico português, é original do século XVIII. Vale lembrar que a
fabrica de cachaça, produzida pelos escravos, está no mercado há 138 anos,
sendo que, a cultura própria daquela época, continua sendo preservada, conforme
se pode observar pelo artefato preso na varanda (uma cabeça de boi).
A senzala é outro grande ponto do museu, localizada no subsolo, o
espaço é muito pequeno e cheio de morcegos, marcas visíveis da crueldade
imposta pelos senhores aos negros.
Histórias
Na
varanda da Casa Grande fica um sino com a seguinte frase “Sino para anunciar a
labuta” (labuta significa “trabalho penoso”), de acordo com a lenda, se alguém tocar no sino, caso seja solteira,
após o toque nunca mais se casará, ou se for casada, em pouco tempo se separa ou
fica viúva.
Outro
grande fato foi à morte de uma escrava na fazenda. Conta-se que a escrava
cuidava do único filho do senhor Simão e, por descuido, deixou a criança cair,
causando acidentalmente a morte do menino. O senhor revoltado, espanco-a,
torturando-a durante dias e em seguida, foi enterrada viva no local da senzala,
próximo aos troncos.
Na
casa também está preservado o documento que traz o nome antigo do município que
se chamava Calaboca. Esse nome veio porque na antiga Acarape existia um
mosteiro de frades, com a presença de indígenas, quando os frades se reuniam
para as orações, os índios começavam a fazer barulho e os frades ordenavam que
calassem a boca.
Castigos
- Tronco – Os escravos que eram encontrados
dormindo ou sem trabalhar no horário do serviço, eram levados até o tronco.
Lá, eram expostos para que as pessoas que passassem no local pudessem açoitá-lo.
- Vira mundo – Os escravos ficavam amarrados das
18 horas até as 5 horas do dia seguinte, com os pés e as mãos presas a um
instrumento de ferro.
- Sala dos Troncos – Os escravos eram surrados com
chicotes feitos com bacalhau a couro cru. Na época, cada ponta do chicote
continha lâminas, pregos, ferro etc. Após o castigo, eles eram banhados
com água misturada com sal, vinagre, pimenta e urina de animal.
- Solitária – Caso houvesse tentativa de fuga, os
escravos eram mantidos em um pequeno espaço fechado permanecendo, neste
local sombrio, por sete dias.